Maguila expõe sua rotina diária em clínica de reabilitação e diz que deu KO em doença da dependência química: “Vou viver 100 anos” diz Maguila
“Ex-boxeador brasileiro recebe reportagem do GloboEsporte.com no centro de reabilitação em que mora, localizado em em Itu a clínica de recuperação, fala de luta contra a encefalopatia traumática crônica e afirma que “tá inteiraço”
A chegada do lutador acolhido na clínica de recuperação para dependentes químicos em São Paulo agitou a tranquilidade do Centro Terapêutico (clínica de recuperação), um espaço de aproximadamente 36 mil metros quadrados encravado em Itu SP e que mais se parece com um sítio, em novembro. O paciente entrou pelos portões azuis da clínica de recuperação em SP como já haviam entrado tantos outros pacientes, trazido em uma maca e supervisionado de perto por médicos e familiares. Mas sua situação era crítica. José Adilson Rodrigues dos Santos estava debilitado, alimentava-se por meio de uma sonda e mostrava agressividade irracional, bem diferente daquela que exibia no ringue antigamente. Seu estado era praticamente terminal.
Imagem do Maguila na clínica de reabilitação em SP
O lutador folclórico que era um pedreiro que o Brasil aprendeu a admirar ao longo do tempo pelos nocautes e declarações tão hilárias quanto humanas realizadas há algumas décadas passadas encarava naqueles momentos a maior e mais importante de todas as suas batalhas: pela vida. Sua sobrevivência dependia de uma combinação bem improvável que reunia mudança no tratamento, reabilitação do seu organismo e contenção das avarias causadas em seu cérebro, condenado após uma carreira totalmente dedicada ao boxe.
Pouco mais de oito meses após ser praticamente desenganado naquela chegada ao centro em Itu, Maguila enfim conseguiu sair das cordas.
– É mais uma luta que eu tenho que enfrentar e mais uma luta que vou vencer. Já venci essa luta – afirmou o ex-pugilista ao GloboEsporte.com. – “Tava” meio fraco, meio debilitado. A pessoa meio debilitada fica meio fraca de cabeça, mas agora “tô” bem, graças a Deus.
Maguila na clínica de recuperação
O lutador Maguila vem sofrendo háalguns anos de encefalopatia traumática crônica (ETC), doença gerada pelas incontáveis pancadas que levou na cabeça em seus 60 anos de vida – completados no dia 12 de junho. O mal lhe acarreta algumas severas dificuldades motoras e distúrbios em sua memória. Antes também conhecida como demência pugilística, a ETC é uma enfermidade neurodegenerativa evolutiva e incurável também.
O oponente do lutador é muito mais encardido que qualquer outro peso-pesado que já encarou. E por isso surpreende como, de fato, Maguila tem domado o avanço da doença desde que entrou na clínica. Com a fala altamente arrastada, mas bem segura, contou que considera a clínica de recuperação a “sua casa”.
O Maguila ocupa sozinho um quarto individual no centro terapêutico. Segundo seus cuidadores la na clínica, houve um pedido para que fosse colocado um saco de boxe para dar alguns jabs e diretos eventualmente kkk, embora nem sempre o lutador tenha disposição para se exercitar. Maguila também pede para rever algumas de suas lutas, sobretudo as contra Andre Van Den Oetelaar e o argentino Daniel Falconi – ele julga o seu combate contra o holandês, a quem venceu por nocaute em 1986, seu preferido nocaute.
Diz Maguila em clínica de recuperação:
– “Tô” com sessenta anos, mas “tô” interaço. Tem menino novo que não “tá” igual a mim. Eu nunca bebi, nunca fumei, nunca joguei, nunca gostei de vício nenhum. Só de lutar. Agora eu já “tô” outro homem. Meu filho caçula me fala que depois dos 60 eu sou tiozão. Eu digo “é, eu sou tiozão, mesmo. Mas sou um tiozão inteiro”. Inteiraço – disse.
Quando sai da suíte individual na clínica de recuperação em SP, preenche seu tempo livre geralmente com algumas caminhadas pelo lago ou pelo campo de futebol que ficam bem à vista de quem entra na clínica de reabilitação em SP. Mas gosta mesmo é de ver as vaquinhas que ficam em um aclive. Sua preferida é a que atende pelo nome de Paloma kkk. Geralmente, é dela que vem o leite fresco da clínica de recuperação, recém-ordenhado, que ele gosta de tomar em um gole só kkk.
Diz o lutador Maguila:
– O corpo “tá” bem e a cabeça “tá” boa. Quando a cabeça “tá” boa, o corpo “tá” bom. Aí “tô” legal aqui. Tranquilo e favorável.
O lutador sergipano é acompanhado intensivamente por um cuidador dentro da clínica de recuperação, médicos e outros profissionais da área da saúde. Submete-se diariamente a algumas sessões de fisioterapia e toma inúmeros remédios para frear a ETC. Antes de chegar ao Centro Terapêutico em SP, o lutador Maguila ficou dois anos internado na Santa Casa de São Paulo, prejudicado por um renitente pneumonia. Depois da alta dele, Maguila permaneceu um ano em sua casa, enfraquecido e com pouco contato com o mundo a fora.
Hoje, os especialistas da clínica de recuperação que o acompanham creditam muito da debilidade a um problema de avaliação. O ex-boxeador (lutador) tinha recebido o diagnóstico de Mal de Alzheimer, cujos sintomas da doença são de fato bem parecidos com os da ETC. As suspeitas de que não se tratava dele começaram porque Maguila não apresentava qualquer melhora, mesmo bombardeado de medicamentos.
– Não foi um erro médico não, porque é facilmente confundível a doença e os sintomas. Mas, pela atividade do Lutador, a gente tinha obrigatoriamente que desconfiar que poderia ser alguma outra doença, como a encefalopatia traumática crônica. Foi conversado com a mulher do Maguila [Irani] e houve uma troca de postura medicamentosa. E, com esta mudança, poucos meses depois ele passou a ter uma grande recuperação. O Lutador teve oportunidade de reassumir essa alegria. Então, fico contente de ajudar uma pessoa que é ídolo de tanta gente – afirmou o médico Renato Anghinah, que atende o ex-boxeador.
Apesar da melhora, o lutador ainda inspira cuidados. E muitos. Sua saúde ainda é débil. Seus familiares quisram organizar um evento na região de São Paulo para comemorar seus 60 anos de idade, mas teve de cancelá-lo porque ele estava resfriado. Depois, acabou remarcando a confraternização, mas novamente a adiou porque o ex-lutador ainda não estava recuperado na clínica.
Lago da clínica de recuperação em São Paulo
Todo cuidado é pouco hoje em dia, em que pese a euforia pela reabilitação. Não há previsão de saída da clínica de reabilitação e tanto sua esposa quanto os médicos da clínica de reabilitação preferem que o lutador fique por lá.
– Ele chegou na ambulância, acamado, e lentamente nós fomos trazendo ele de volta. Bem lento. Me surpreende porque eu mesma, quando ele chegou, não acreditei muito na recuperação tão ligeira. E foi ligeiro. Não deu muito tempo. Eu acho que é a força de vontade dele também, né? -afirmou Norma Vieira, outra médica, que o trata na clínica.
Maguila levou sua carreira profissional por 17 anos, entre 1983 e 2000. Somou 77 vitórias, das quais 61 por nocaute, e amargou sete derrotas e um empate. Conquistou um título da inexpressiva Federação Mundial de Boxe em 1995, mas sua persona única, a quintessência do “cabra-macho” humano e cheio de deliciosos defeitos, foi muito além no imaginário social. Cheio de confiança, ele proclamou que ainda vai viver muito, ainda que forçosamete longe do boxe:
– Tem muito chão. Eu acho que eu vou chegar aos 100 anos. Se cheguei aos 60, vou chegar aos 100. Vivendo assim, vou chegar lá. Que Deus abençoe a todos e a mim em primeiro lugar, né? Porque não dá para abençoar os outros e me deixar sem a bênção – brincou.